O hall estava lotado. A multidão ficou atrás, depois de atravessar as portas da plataforma, aonde funcionários uniformados conduziam os passageiros até um trem moderno, organizado e prestes a sair.
Ainda era noite escura quando chegaram na estação do trem em
Cuzco. (“Parecia Londres”... até pensou....). A viagem prometia a descoberta de um outro mundo, là perto das nuvens :
Machu Pichu. O gerente do Hotel a acompanhou até a entrada perto do portão, e combinaram os horários do retorno.
Ela entrou no trem e sentou-se junto à janela.
O som dos trilhos, o apito da locomotiva, as pessoas se acomodando, as mochilas, o barulho, as vozes....
Ele entrou no vagão, devagar, com sua mochila pesada nas costas. Sentou-se perto dela e relaxou.
Esse apito anunciava uma viagem em direção à magia. Eram cinco ou seis horas até uma cidadezinha chamada
“Aguas Calientes”.
Ela olhava maravilhada a paissagem, as montanhas, as pedras, o rio....
O movimento do trem e o calor da calefação contrastavam com a quietude là fora e o frio da noite.
”Logo vamos ver o sol e o dia amanhecer!"
As palavras dele iniciaram uma conversa que durou a viagem toda e poderia ter durado muitas outras mais.
Viajando nessa altura , so sentindo a vertigem da emoção. Folhas e chazinhos de coca para estabilizar o coração.
Aguas Calientes espera os turistas a beira do rio Urubamba . No meio do caminho a Machu Pichu.
Pequena e acolhedora, a cidade tem pousadas, restaurantes e uma energia que prepara às pessoas para o pulo à imortalidade.
Fazendo o Caminho do Inca (subir a montanha a pé) as pessoas se sentem imortáis. Quando se chega a Machu Pichu, se percebe que o lugar é um sonho, quem está aí faz parte desse monumento da Humanidade, dessa sensação de magnitude.
E se pensa “ Eu estou aqui” “Eu consegui” “Tocando as pedras faço parte delas” “Sinto em mim essa eternidade” .
No meio dos Andes, perto das nuvens, entre o mundo e sua história, é o abismo...
Eles caminham, conversam, tiram fotos. Primeiro em Aguas Calientes, depois em Machu Pichu. Sentem que já se conhecem de antes.
Machu Pichu e a porta à grandiosidade. Quem passa por ela já sabe. Quem entra pela
Porta do Sol percebe que sua alma nâo vai querer voltar.
Sentar-se em uma pedra perto do abismo é sentir que essa energia pode te abraçar. Eles percorrem as casas, as quadras, os bairros os lugares sagrados dos lendários Incas e escutam com avidez as palavras dos guias.
Quando o percurso chega ao fim, os ónibus voltam pela estrada e suas curvas, paralela ao
Caminho dos Incas.
As pessoas do mundo todo ficam caladas. A grandeza do lugar ainda está nas almas. E vai ficar.... para sempre.
O retorno, cansativo e longo está sempre acompanhado de fotos, lembranças, conversas,novos amigos e emoções compartilhadas.
Quando o trem sai voltando para o Cuzco, eles dormem, esgotados, apertados,um nos braços do outro. Sabendo que talvez este seja um último abraço antes da partida. O retorno de cada um a sua vida real em seus países de origem, a sua própria rotina.
De perto de longe, nos outros vagões, escutam-se as conversas em diversos idiomas.
Machu Pichu é um intercâmbio constante de energias. O mundo vai a ele levando as pessoas e ele vai ao mundo na memória e nos relatos delas.
Os cóndores passam, os incas ainda caminham nas montanhas resignados à história, as quenas se escutam no silêncio das paisagens.
A magia fica......para sempre.
Eles se conhecem, se maravilham, intimam, e quando a viagem acaba, se despedem.
O sonho acaba ao voltar...